A dor associada ao câncer está presente na grande maioria dos pacientes em tratamento. Devido ao seu alto potencial de danos, todos portadores de neoplasia ativa devem ser rotineiramente questionados quanto à dor. A investigação criteriosa sobre a causa deste sintoma e o impacto físico, social e emocional contribui para a elaboração de um tratamento específico e qualificado.
Além de uma história clínica e exame físico detalhados, podemos utilizar escalas validadas para a análise da dor, como a escala visual analógica, que permite analisar a intensidade da dor e classificá-la em leve, moderada e intensa. Com a análise sintomatologica estabelecida, a escolha terapêutica pode ser então direcionada.
O tratamento medicamentoso fundamenta-se em critérios específicos da Organização Mundial de Saúde (OMS). Deve-se privilegiar analgésicos por via oral, com horários estabelecidos, e uso de drogas de resgate nas crises dolorosas. As medicações utilizadas podem variar de analgésico simples ou anti-inflamatório não-esteroide (AINE) até um opioide de forte intensidade. Essas drogas geralmente são associadas a medicações adjuvantes, como os antidepressivos, anticonvulsivantes ou anestésicos locais, tendo suas doses tituladas conforme a necessidade.
Os opiódes, pouco usados em dores de origem não oncológicas, apresentam-se bastante úteis no tratamento da dor relacionada ao câncer. A morfina oral, por exemplo, promove alívio doloroso em até 80% dos pacientes. Sua dose deve ser titulada com base no alívio e na tolerância dos efeitos colaterais. Outras drogas potentes também possuem um importante papel para o controle da dor de origem neoplásica, como a metadona, oxicodona e fentanil.
De maneira mais atual, as dores oncológicas de dificil controle, resistentes ao tratamento convencional ou limitadas devido ao efeitos colaterais das drogas tem como opção o uso de técnicas intervencionistas. Através de procedimentos minimamente invasivos, como o neurólise químico ou por radiofrequencia, é possivel realizar um bloqueio de cadeias nervosas sensitivas com o intuito de promover o alívio da dor. Outra tecnica avançada é o implante de dispositivo de infusão de fármacos diretamente no sistema nervoso central, possibilitando o uso de menores doses analgésicas e, consequentemente, menos efeitos adversos.
Como forma complementar, e não menos importante, a terapia não medicamentosa tem um papel fundamental no controle da dor oncológica. A atenção biopsicossocial voltada para os sintomas e sentimentos quanto ao tratamento apresenta uma melhor adesão à terapeutica. Dessa maneira, a desmistificação da possibilidade de dependencia medicamentasa ao uso de opioides se torna um tema essencial a ser discutido com os pacientes.
Por fim, os pacientes com dores relacionas a patologias neoplásicas devem, sempre que possivel, serem assistidos em serviços especialisados para terem um melhor tratamento multidisciplinar e controle do sintomas.